O Acontecimento
(950 palavras + 70 fim)
Paulo Gonçalves
É o fim. Enquanto visto a minha armadura e preparo-me para enfrentar a morte penso na vida que tive desde o Acontecimento. Lembra-me tao bem quando começaram a surgir os primeiros zombies. Bem... eles nao sao bem zombies. Sao seres vivos em que a sua capacidade mental se reduzio ao mais basico da sobrivencia. Comer. Não sei o que prefiro... Zombies ou estes seres.
Lembra-me quando passaram na TV as primeiras imagens e as primeiras mortes... Lembra-me quando os cientistas diziam dia após dia que nao sabia como tinha aparecido tal peste nem como poderiam eliminar-la. Bastava o contágio de sangue ou saliva e passado algumas horas tornavamo-nos nestes monstros. Canibalismo começou a ser uma palavra usada diariamente. Os monstros nao se limitavam a comer outros humanos mas também animais... Os seus actos nao ficavam por ai... Verduras e frutos também estavam na sua ementa embora preferisem carne e sangue. O mais estranho é que era resilientes a dor. Pessoas que tinham sido mordidas com dezenas de cortes e mesmo assim andavam e eram tão perigosos como pessoas sãs.
Lembra-me quando atingiu Portugal... Foi em Agosto. A minha namorada estava na Bulgaria e a ultima vez que consegui falar com ela antes dos telefones se avariarem ela estava na aldeia dos avós e estavam um pouco isolados da maior parte das pessoas. Dizia-me que os aldeões muitos velhos estavam a tentar criar barreiras para proteger a sua pequena aldeia. Não sei nada dela a muito tempo... espero que esteja bem mas... o mundo todo está dominado destes seres... Os paises cairam. Os governos incapazes de cooperar com esta ameaça cairam no anarquismo. Existem algumas zonas controladas mas nao tem grande poder... voltamos a era medieval. Os cientistas diziam que era esperar.. Esperar que a comida terminasse e eles morressem a fome. É o que tento fazer...
Cá estou eu a usar a minha armadura que me trouxe a esta casa. Nao sei de quem era mas estava muito bem protegida e tinha muita comida. Vivi aqui durante 6 meses... Agora é Inverno e a chuva cai constatemente faz tres dias...
Os zombies (o nome que lhes deou embora incorrecto) descobriram-me e estao nos portões.. Mais de cem zombies... Nao tenho chances mas nao me vou tornar num deles. Vou lutar até ao fim como um guerreiro honrado.. um samurai.. um Drizzt Do'Urden. Veremos o que vai acontecer. Foi bom estar aqui durante 6 meses. Os meus unicos companheiros eram dois gatos... nao sei como sobriviviam nesta selva mas vinham ter ao meu quintal diariamente... Talvez um doz zombies tenha os visto a entrar e pensou.. um almoço gratis. Nao sei como apareceram tantos... Eu acho que eles conseguem comunicar entre si... Aqueles grunhidos devem querer dizer algo.
Matar zombies ja nao me incomoda. O primeiro zombie que matei foi no meu trabalho, na PT. Nao sei como mas a peste nos primeiros dias invandiu a PT e varios comunicadores transformaram-se em zombies. Matei um com um monitor pela cabeça abaixo e outro com um faca de cozinha. Eu sempre disse que alguns comunicadores necessitavam ser espancados para ver se melhoravam... Levei isto ao extremo. Um sorriso...
Voltei para casa nesse dia e a minha mae nao tinha voltado do trabalho... Nunca mais voltou... A minha avó estava no hospital e lá foi dos primeiros sitios a cairem sobre o dominio dos zombies. Nunca me perdoei por nao ter conseguido ir lá a tempo e descobrir o seu paradeiro. O meu irmão? Longa história... Matei-o. Como? Ele foi mordido e cuidei dele durante doze horas... Quando ele se transformou eu peguei na minha wakizashi e cortei-lhe a cabeça. Nao sofreu nada. A minha gata? Morreu como ela sempre quis. Gorda.
Peguei nas minhas coisas e parti a procura da minha avó no hospital só para saber que o hospital tinha sido bombardeado pelo exército para evitar a propagação da doença. Procurei uma casa que me pudesse proteger e que tivesse um quintal grande aonde pudesse cultivar algumas coisas... Encontrei em lisboa uma casa mesmo boa.. Voltei a casa e peguei em caixas cheias de livros e levei-os numa carrinha que encontrara. Nunca aprendara a conduzir mas em tempos dificeis os humanos tornam-se imaginativos. Depois procurei em varios supermercados comida enlatada e guardei-a religiosamente. Água também. Cultivei algumas coisas mas em seis meses pouca coisa cresceu.
Agora tenho aqui os monstros a minha porta... A minha paz interrupida... Finalmente tive tempo para ler o que queria... Sem luz nao havia grande coisa a fazer. Escrevi um livro que nunca irá ver a luz do dia mas é o que interessa. Escrevi-o. Devo admitir que apesar de toda a dor e sofrimento que passei a minha vida até que nao era má... Raramente via outros humanos e também nao queria saber deles para nada. Os gatos eram suficientes para mim...
Agora é o fim.
Pego na minha Wakizashi e na minha Katana e preparo-me... Com uma cota de malha e um elmo para me proteger do sangue que irá jorrar. Um corte é suficiente para eu me tornar num deles. Mas isso jamais irá acontecer. Antes matar-me-ei.
"Obrigado Perkunõs por tudo o que me deste ao longo da minha vida. Obrigado e peço-te que no fim me des força para matar estes seres abominaveis aos olhos da Mae Natureza. Dá-me força."
Os zombies inrrompem pelos portões e atacam-me com aqueles olhos vazios cheios de fome...
Com o joelho no chão e o meu arco prepardo envio flecha atrás de flecha. Impossivel falhar. Mas por cada um que cai outros dois aparecem. Odeio-os.
Retiro as espadas dos freixos e gritando ataca-os.
"Por Perkunõs!". Despedançado-os eu corto membros atrás de membros mas eles sao tantos...
********* 1 Fim (Caso seja necessário) *********
Eles derrubam-me e mordem-me nas pernas. O sangue deles cai sobre os meus olhos e boca contaminando-me... Nao irei tornar-me um deles. Pego na wakisashi e tento cometer seppuku mas nao consigo... A Dor. O Ódio.... Com tantos cortes torno-me num deles rapidamente... os meus pensamentos vão para a minha avó... para a mina... "Mina... irei reunir-me contigo brevemente..." Levanto-me e começo a caminhar para este... A caminho de ti...
********* 2 Fim (Caso seja necessário) ********
Hack and Slash através dos zombies... Ninguém me consegue parar. Os seus dentes ineficazes contra a minha armadura... Sinto-me cansado... Ainda bem que chove... A chuva limpa-me do sangue. O meu elmo protege-me. Um após outro eles tombam... Nao podemos matar quem ja morreu para o mundo...
A minha solaço está destruido... Vou a caminho da Bulgaria. Vou procurar a Mina. Nao tenho mais ninguém. Se morrer até lá morrerei bem. Veremos...
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